GPS
37.196816, -8.036036
Tôr dista sete quilómetros de Loulé, sede do concelho, e 30 de Faro. Ocupa uma área de 15,82 km² de área habitada por 885 pessoas (dados de 2011), 668 destes, eleitores (dados de 2022). A freguesia é limitada a norte por Salir, a sul por São Clemente e São Sebastião, a nascente por Querença e a poente por Benafim.
ORIGENS
“Até que enfim!”
É primeiro verso de poema e simboliza o desejo acalentado pelas gentes da Tôr, desde 1931, de que esta se tornasse freguesia independente de Querença. Sonho realizado em 1997.
O território da Tôr já pertenceu a Salir, tendo ficado agregada a Querença quando esta se tornou freguesia. Lê-se na Monografia do concelho de Loulé, de Ataíde Oliveira (1905): «Além da pequena povoação, onde se encontra a egreja paroquial, composta de 20 habitantes [Querença], há a chamada aldeia da Tôr ou Atôr, que tem aproximadamente 60 habitantes, todos em casas mais ou menos dispersas.»
O sonho alcançado perdeu-se com a reforma administrativa nacional de 2013, ano em que se constituiu a União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, com sede em Querença. Uma possível reorganização administrativa deste território poderá reescrever a história da autonomia desta freguesia.
PATRIMÓNIO NATURAL
Os CAMPOS DE LAPIÁS desafiam-nos a fazer uma viagem pelo período Jurássico.
A principal mancha deste megalapiás localiza-se a norte e noroeste da cidade de Loulé, entre o Castelão (S. Sebastião) e Clareanes (S. Clemente). O Barrocal da Tôr, localizado entre Clareanes e a Tôr, é uma das áreas que assume especial relevância. Está inserida no Sítio de Importância Comunitária Barrocal, definido pela Diretiva Habitats da Comissão Europeia.
Os geomonumentos formaram-se há cerca de 165 a 145 milhões de anos a partir de lamas ricas em carbonato de cálcio, num antigo mar tropical pouco profundo. Corais, crinoides e outros organismos ficaram fossilizados nestas rochas calcárias.
Valores como os da conservação da natureza, da geodiversidade, da preservação do património natural e da biodiversidade da região, fizeram com que o Município de Loulé se aliasse aos de Silves e Albufeira para promover uma candidatura com vista à criação de um Parque Mundial da UNESCO: o Geoparque algarvensis.
O ALGAR DA FIGUEIRA encontra-se no extremo noroeste, no lugar da Picavessa e pode ser visitada a partir dos sítios da Ferraria ou da Várzea d’Alagoa. É lá que poderá encontrar o último forno de cal que laborou nesta região até meados do século XX. Também poderá observar uma marca em forma de obelisco que assinala uma área de areia fina entre pedras e terra ruiva.
OUTROS PONTOS DE INTERESSE
Tôr é banhada pelas ribeiras da Benémola e das Mercês. Porque se encontra sobre o maior aquífero do Algarve, o de Querença-Silves, é muito rica em água.
A ribeira da Tôr é partilhada com a freguesia de S. Sebastião. Foi “escola de natação” para muitos da região que aprenderam a nadar neste pego de água. Até à primeira metade do século XX a ribeira mantinha água todo o ano, exceção feita à seca registada nos anos de 1945-1946.
A freguesia é também caracterizada por zonas mais planas: Morgado, Várzea da Ponte, Várzea das Pereiras, Várzea d’Alagoa e Várzea do Fojo. A maior elevação, com 330 metros de altitude, localiza-se no Sítio da Ferraria.
A paisagem é composta por hortas familiares e vinhas. Os tradicionais pomares de sequeiro também pontuam, com predominância para a figueira, oliveira e alfarrobeira.
FLORA
O matagal mediterrânico, as oliveiras e as azinheiras destacam-se entre os arbustos de tojo-do-Sul, aroeira, trovisco, rosmaninho, saganho-mouro, azevinho, medronheiro, urze, rosmaninho, mariola, loendro, esparteiro e palmeira anã.
Esta área acolhe espécies consideradas raras, com interesse para a conservação da natureza e táxones de alto valor patrimonial. Outras, são mais comuns, mas ainda assim protegidas, como a gilbardeira – Ruscus aculeatus. Já a Asplenium petrarchae – feto composto por vários caules que nascem da mesma raiz – surge em fissuras de superfícies rochosas calcárias características do barrocal.
FAUNA
INSECTOS
Fundamentais para o bom funcionamento de um ecossistema, pelo papel polinizador e de alimento para inúmeros grupos de seres vivos, habitam esta área insetos como a Megachile ericetorum, uma espécie de abelha considerada rara em Portugal e que prefere habitats calcários. Mais comum, a borboleta-zebra (Iphiclides feisthamelii), a maior da Europa, com 55-80 mm. O gafanhoto-pedra (Ocnerodes fallaciosus) está apenas registado no Sul de Portugal continental, em biótopos com forte insolação, pedregosos, com pouca cobertura vegetal e presença de matos.
Recorde-se a praga de gafanhotos de 1755. Nessa altura, a Câmara determinou que agregados familiares com cinco pessoas ou mais, estavam obrigados a apanhar um alqueire de gafanhotos. Os agregados com menos membros tinham de recolher meio alqueire. Quem não cumprisse, incorria numa multa de 500 réis. Esta lei foi extensiva a Salir e Alte.
AVES
MAMÍFEROS
PATRIMÓNIO EDIFICADO
ERMIDA DE SANTA RITA
Desconhece-se a data de fundação da ermida da Tôr, filial da matriz de Nossa Senhora da Assunção de Querença. Contudo, é consensual que tenha sido construída na primeira metade do século XVIII. Em 1758, escreve o pároco de Querença, a ermida era frequentada por gente em romagem, especialmente no Natal, Páscoa, no dia da padroeira, Santa Rita de Cássia, a 22 de maio. A sua imagem é de madeira e data da primeira metade do século XVIII.
A ermida, de planta retangular, é constituída por capela-mor e uma única nave. A cobertura da capela-mor é de abóbada de berço e a da nave, originalmente em madeira, foi substituída no século XX por uma placa de betão.
Nos dias de hoje, recebe os dias de festa no seu largo.
PONTES DE HISTÓRIA
A ponte da Tôr, sobre a Ribeira de Algibre, terá sido construída na Baixa Idade Média sobre uma pré-existência romana, integrada na ligação de Milreu (em Estoi, Faro) a Salir. É, desde 2014, monumento de interesse municipal.
Cem metros a montante, encontra-se uma segunda ponte, construída na década de 90 do século XX.
FESTAS E ROMARIAS
A FESTA DE SANTA RITA acontece anualmente, no último domingo de Julho. Além das tradicionais cerimónias religiosas, cumpre-se o bufete e o bazar onde são expostas as ofertas.
São nomeados Juízes e Juízas, Mordomos e Pajens que fazem as suas oferendas a Santa Rita: tabuleiros com comida e bebida, chamados de “ramos”.
A FESTA DE SÃO LUÍS começou a realizar-se no último quartel do século XX, em 1988, antes de a Tôr ser elevada a freguesia. Acontece em Fevereiro e venera o santo protetor dos animais, São Luís. Após a procissão, abre-se o bazar para as ofertas, leiloadas para benefício da Paróquia. Além do convívio, a festa garante experimentar a boa chouriça assada e o vinho caseiro da região.
Uma nota curiosa: até à aquisição da imagem do Santo, a comissão de festas da Tôr cumpria a celebração com o Santo de Querença e até, com o de Benafim.
Tôr não é imune às lendas, superstições e bruxarias. Ataíde Oliveira fixou na sua monografia sobre Loulé: «Ahi para os lados da Tôr há uma epileptica que afirma ter na barriga um padre, falecido há muitos anos. Toda a gente dos arredores tem ido visitar a mulher e sai de la dizendo convictamente que a mulher tem o que quer que seja na barriga. Dias ou semanas depois, uma filha dessa mulher, começou a queixar-se de que o padre tambem lhe entrera no estambo [estômago].»
DINÂMICAS HUMANAS
Indústrias culturais e criativas e Turismo de Natureza
Turismo
Agricultura
Terra que já deu feijão, batata, batata doce, milho e trigo. A presença de noras e poços são testemunhos dessa predominância do cultivo. Hoje, só uma parte da população, acima dos 60 anos, se dedica à agricultura.
Amendoeira, alfarrobeira, oliveira. As azinheiras estão abandonadas porque já ninguém engorda o porco com bolota.
Artesanato
GASTRONOMIA
Às tradicionais papas de milho, ao jantar de grão, guisado de galo caseiro e cabidela de galinha caseira, a Tôr acrescenta com proeminente orgulho: chouriça assada, favas com chouriça, griséus com chouriça ou com ovos e filhós com mel da região.
A ganhar território e notoriedade: o vinho da Tôr.