GPS
37.23636, -8.17661
A povoação de Alte, sede da freguesia, encontra-se no centro geográfico do Algarve. É uma das aldeias mais típicas e preservadas do interior do Algarve, com as casas pintadas nas cores tradicionais, as açoteias, as chaminés e as ruelas pavimentadas em calçada portuguesa. Com uma superfície de aproximadamente 97 km2, está situada no extremo noroeste do concelho de Loulé, confrontando com São Bartolomeu de Messines a oeste, São Barnabé (Almodôvar) a norte, Benafim a este e Paderne (Albufeira) a sul.
CARACTERÍSTICAS NATURAIS
ORIGENS
OCUPAÇÃO HUMANA
Em 1565, aquando de uma visita do Mestrado de S. Thiago (ou Sant’iago) que incluiu uma incursão à capela, havia apenas 70 “vizinhos” na localidade. Mais tarde, em 1747, novos registos, desta vez do Padre Luís Cardoso, fixam: «Alte, lugar no Reino do Algarve, comarca de Tavira, termo de Loulé. Consta o lugar e toda a freguesia de 489 fogos. É terra d’El-Rei e tem seu assento em um valle nas margens de uma ribeira, que por aqui lança a sua corrente arrebatada, por correr por entre a brusca e descomposta penedia. Dos montes que formam o valle e cercam o lugar, se descobre quasi todo o districto do Algarve.»
Nos censos do INE de 2021, estão registados 1.746 habitantes na freguesia de Alte.
PATRIMÓNIO NATURAL
CASCATA (OU QUEDA) DO VIGÁRIO
FONTE GRANDE E FONTE PEQUENA
As Fontes, Pequena e Grande, são importante ponto de atração para habitantes locais e turistas, devido à abundância de água que as caracteriza e à sua fácil acessibilidade. Em tempos, serviam como ponto de encontro para as mulheres que ali lavavam a roupa ou se abasteciam de água para a casa. Nos finais dos anos 40 do século XX, a Fonte Pequena foi recuperada, tendo sido construído um Parque de Merendas. Já a Fonte Grande, acabou por ser sujeita a intervenção em 1986, criando a atual piscina natural – com quase 100 metros, bastante procurada no verão – e um restaurante.
Estes dois locais, que distam umas dezenas de metros um do outro, são muito procurados no 1.º de maio, dia da tradicional incursão ao campo em que as pessoas, por todo o Algarve, fazem piqueniques, entre eles, caracóis. Uma itinerância que perdura no século XXI.
ROCHA DOS SOIDOS
Ponto mais elevado da freguesia de Alte, foi guia aos navegantes e é um dos quatro montes que rodeiam Alte. Somam-se a Galvana, a Francilheira e a Rocha Maior. O cume da Rocha dos Soidos está a 482 metros de altitude.
É aqui que existe uma gruta de grandes dimensões, a 400 metros de altitude, chamada de Igrejinha dos Soidos, onde se instalam frequentemente colónias de morcegos (espécie protegida). A gruta da Igrejinha dos Soidos ganhou o nome graças à sua forma interior, de tetos abobadados e pequenas reentrâncias nas paredes que evocam popularmente as naves das igrejas e seus nichos. A sala principal tem 38 metros de comprimento, orientada no sentido sudoeste-nordeste, e 20 de largura, com cerca de 11 metros de altura máxima (Straus et al., 1988). Trabalhos desenvolvidos por António Carvalho e Humberto Veríssimo, da Universidade do Algarve, resultaram em achados de objetos que permitiram atestar ocupação humana nesta gruta no final da Idade do Bronze, cerca de 1.400 a.C.
FAUNA E FLORA
Outrora bastante comuns, espécies de animais como lobos, águias, grifos, bufos e grous são hoje extremamente raras e algumas mesmo desaparecidas. Ainda é possível encontrar algumas raposas, gatos-bravos ou saca-rabos, e lontras junto às ribeiras, constituindo avistamentos difíceis. Por outro lado, é possível encontrar algumas espécies de morcegos.
Na flora, regista-se a presença do bugalho ou erva-isqueira, a leituga-branca, as pútegas, o trovisco e a esúla-redonda, a serradela-brava e a dormideira dos jardins, a erva-pinheira, a erva-língua e o cardo-morto, a salsa-de-cavalo e a serralha-preta.
PATRIMÓNIO EDIFICADO
IGREJA MATRIZ
Remonta aos finais do século XIII e foi mandada edificar por Dona Bona, mulher de Garcia Mendes de Ribadeneyra, 2.º Senhor d’Alte. Assim consta nos registos do Arquivo da Casa d’Alte. Seria nessa altura uma simples capela privada de devoção, e não uma igreja paroquial, tal como é hoje.
As moedas com a efígie de D. João I encontradas numa escavação realizada aquando da reparação da torre do relógio, como refere A.H. de Oliveira Marques, em Para a História do Algarve Medieval, 1987, confirmam a existência da mesma no século XIV.
A igreja tem três naves. A do meio está assente sobre arcos de alvenaria e colunas de pedra, enquanto as outras duas são madeiradas de castanho e telha vã.
Atualmente, o teto é forrado de madeira, em caixão. Os azulejos, a azul e branco, revestem teto e paredes e datam do século XVIII, de traça barroca, descrevem Francisco Lameira e Marco Sousa Santos, especialistas em património religioso no concelho de Loulé.
A imagem de Nossa Senhora da Assunção ocupa o altar-mor. À esquerda da capela-mor está o altar do Santíssimo Sacramento e, à direita, o de Nossa Senhora do Rosário, que remonta também ao século XVIII e que apresenta uma extensa e muito interessante aplicação de talha barroca.
CAPELA DE SÃO LUÍS
A Capela de São Luís terá sido mandada construir por Álvaro Mendes de Ribadeneyra, Sexto Senhor d’Alte, no início do século XV. No Arquivo da Casa d’Alte lê-se que foi erigida em sinal de agradecimento «no sítio que foi achado seu filho, Pero Mendes, ainda mínimo, folgando com dois ursos que lhe não fizeram dano». As referências escritas mais antigas datam, no entanto, do século XVIII, de 1747.
A capela tem uma só nave, com cobertura de duas águas no telhado. Na cabeceira, com uma cúpula, encontra-se o altar-mor, de talha dourada. São Luís é considerado o protetor dos animais.
ERMIDA DE SANTA MARGARIDA
O CASTELO D’ALTE
Apesar de hoje não serem visíveis quaisquer vestígios, há evidências escritas que apontam para a existência de um castelo em Alte. Entre elas, a referência no Arquivo da Casa d’Alte sobre um edificado «sobranceiro a uma grande baixa por onde passava a antiga estrada de Loulé». O registo descreve o início do Senhorio de Alte, concedido a João Gomes de Ribadeneyra, quarto filho do Capitão Ribadeneyra, que se distinguira na luta contra os mouros na Batalha de Navas de Tolosa, em 1212. Pode ler-se: «Estando El-Rei ocupado em correrias (…) no cerco do Castelo d’Alte houve uma grande batalha para aquém do Castelo nas fraldas da serra, pelos anos de 1249 (…) em que D. Afonso foi derrubado do seu cavalo pelo poder dos mouros e estava em risco de perder a vida. João Gomes que o seguia (…) empenhado na sua defesa teve a ventura de ferir de morte o Miramolim dos mouros e de livrar El-Rei».
Nos dias de hoje, há uma referência na toponímia: “Cerro do Castelo”, um dos quatro cabeços que envolvem a aldeia, que aparece cantado em versos populares, citados por Isabel Raposo, no livro Alte na Roda do Tempo.
«Quatro cerros tem Alte
Que o cercam em redor
Galvana e Francilheira
Castelo e Rocha Maior»
OUTROS PONTOS DE INTERESSE
PÓLO MUSEOLÓGICO CÂNDIDO GUERREIRO
O Polo Museológico Cândido Guerreiro e Condes de Alte foi inaugurado a 30 de Abril de 2009. A antiga Casa dos Condes de Alte, agora musealizada, permite-nos descobrir o espólio desta família e alguns objetos históricos da Casa do Povo de Alte e de particulares. A casa exibe também o espólio do poeta Francisco Xavier Cândido Guerreiro, incluindo um espaço multimédia, um Centro de Documentação e uma sala de leitura.
Dizia o poeta (1871-1953):
Porque nasci ao pé de quatro montes,
Por onde as águas passam a cantar
As canções dos moinhos e das pontes
Ensinaram-me as águas a falar…
Eu sei a vossa língua, água das fontes…
Podeis falar comigo, águas do mar…
E ouço à tarde, os longínquos horizontes,
Chorar uma saudade singular…
E, porque entendo bem aquelas mágoas
e
compreendo os íntimos segredos
da voz do mar ou do rochedo mudo,
sinto-me irmão da luz, do ar, das águas,
sinto-me irmão dos íngremes penedo
s
e sinto que sou Deus, pois Deus é tudo…
CASA DO ARTESÃO
PASSEIO LITERÁRIO CÂNDIDO GUERREIRO
Fazendo homenagem a um dos maiores poetas portugueses, oriundo de Alte, foi criado o Passeio Literário Cândido Guerreiro (1871-1953).Tem como suporte um livro e uma brochura trilingue acessível aqui: http://www.museudeloule.pt/pt/agenda/12323/passeio-literario-candido-guerreiro-o-poeta-de-alte.aspx. O passeio – que está sinalizado e disponibiliza QR Codes – prevê sete pontos de paragem.
DAQUI SENTE O QUE VÊS
FESTAS E ROMARIAS
A principal feira anual celebra-se a 17 de setembro, em honra a São Luís e a Nossa Senhora das Dores, mas existem vários outros eventos que marcam a vida de habitantes e de visitantes ao longo do ano.
Janeiro é marcado pelo tradicional Encontro de Janeiras, reúne pessoas cantam na rua e vão às portas dos vizinhos e pela Festa em honra de S. Luís. O Carnaval assinala fevereiro. Em abril e maio, há a Semana Cultural de Alte. A Semana Santa, na Páscoa, é fortemente celebrada. A festa do 1.º de maio, com a afluência de pessoas ao campo, é um dos momentos altos. Seguem-se os santos populares, assinalados em junho, o Festival de Folclore e Cerimónia Tradicional de Casamento com Boda (2.º sábado de agosto). Ainda em agosto, a Festa em honra de Nª Senhora da Assunção (a 15). No sítio das Sarnadas, a Festa de Verão, no segundo fim de semana de agosto seguida da Festa da Juventude no Monte Ruivo (3.º fim semana do mês). Em novembro, o Mercado da Pulga convoca o comércio local e artesanal e, em dezembro, o Roteiro de Presépios de Alte, particulariza o Natal nesta freguesia. Destaque ainda para os mercados mensais, em Alte, na terceira 5.ª feira do mês e, no Azinhal, no último sábado de cada mês.
DINÂMICAS HUMANAS
A alfarroba, a amêndoa, a azeitona e o figo protagonizavam a produção agrícola, a par do trigo e da cevada, ou ainda do esparto (bom para cordas, redes e cestos). Hoje, a agricultura é maioritariamente constituída por pomares de citrinos, algumas estufas de hortícolas e pomar de sequeiro. Exemplo deste, a alfarrobeira. Destaque para os produtos locais: mel e aguardente de medronho e queijo de cabra. A produção é de pequena escala, em muitos casos, artesanal e, por isso, de valor acrescentado. O artesanato, seja de trabalhos em madeira, cerâmica ou cestaria, é digno de registo.
Alte beneficia da existência de uma escola profissional, a Escola Profissional Cândido Guerreiro, integrada numa cooperativa gerida pela Câmara Municipal de Loulé, Junta de Freguesia de Alte e Associação In Loco. Tem como objetivo dar formação prática certificada a jovens de vários pontos do Algarve.
Em Alte existe ainda um Polo com incubadora de empresas gerido pela QRER, Cooperativa para o Desenvolvimento dos Territórios de Baixa Densidade, que contempla uma sala de co-working e uma outra, polivalente. A QRER tem sede em Querença e outro polo na Tôr.
GASTRONOMIA