Benafim é uma das guardiãs de um imponente geomonumento: a Rocha da Pena, com mais de 350 milhões de anos de História.
Devido à sua altitude, este maciço calcário constitui um miradouro por excelência para avistar a costa, bem como as paisagens do barrocal algarvio. É também garantida a identificação de fendas que deram origem a grutas, algumas das quais com grandes dimensões, formadas ao longo dos anos por ação da água na rocha calcária. Juntam-se amuralhamentos em pedra cuja origem ainda está por precisar.
O afloramento calcário em forma de cornija da Rocha da Pena eleva-se a 479 metros de altitude e ostenta um planalto com cerca de dois quilómetros de extensão. Os vários microclimas fazem-na abrigar espécies únicas de animais e plantas. A vista panorâmica revela um cenário memorável, um excelente ponto de partida para descobrir a ruralidade deste território onde também se conta a história da emigração, na década de 60 do século XX.
GPS
37.23665, -8.12831
Benafim encontra-se a noroeste de Loulé, distando 19 quilómetros da sede do concelho. Contam-se 41 quilómetros até Faro, capital de distrito. Benafim ocupa uma área com 52,69 km² e 1 069 habitantes (2011). Em 2022 estavam registados 896 eleitores.
A freguesia é limitada a norte pela ribeira do Arade e a sul pela do Algibre. A nascente, pelo serro das Sobreiras até à Rocha da Pena, morgado da Quinta do Freixo e ribeira de Arade. A poente, limita-a a ribeira do Algibre, o sítio da Estiveira, corta a estrada nacional n.º 124 ao quilómetro 49, e segue até à Rocha dos Soidos. Partilha ainda o seu território com o morgado da Quinta do Freixo, Barranco do Corgo-Montinho, serro do Azinhal, povoação de Cascabulho até ao serro da Portela da Mó, terminando na ribeira do Arade.
ORIGENS
Benafim é um topónimo de origem árabe, noutros tempos Ben Afon, ou seja, filho de Afon. Reza a tradição que seria ali a casa de campo dos reis mouros de Silves. O arqueólogo e escritor Ataíde Oliveira afirma até que ali se terão encontrado ruínas de um monumento.
Benafim integrou a freguesia de Alte. Autonomizou-se em 1988, mas foi extinta em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional. Formou a partir daí a União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, com sede em Querença.
Se a Rocha da Pena confere uma marca identitária ao território, há sítios que lhe atribuem carácter singular: Benafim Pequeno enquanto conjunto arquitetónico tradicional, a sua envolvente e fonte, Parque das Merendas sombreada por uma azinheira monumental; e Benafim Grande. Ambos albergam o núcleo histórico. Junta-se o Bairro Novo, que guarda a maior parte das habitações construídas pelos emigrantes; Alto Fica, Zimbral e Espargal.
OCUPAÇÃO HUMANA
Os primeiros vestígios de ocupação humana nesta região remontam ao período do Neolítico.
Achados arqueológicos no sítio das Barradas, identificaram uma estela de xisto com inscrição em quatro linhas, dos séculos VI-V a.C.
No Espargal, foi encontrada uma colher ou espátula de ferro da época romana/Baixo-Império – calcula-se – e uma mó circular de granito romana. Todas estas peças estão depositadas no Museu Municipal de Loulé.
Na Quinta do Freixo foi identificada uma ara funerária da 2.ª metade do século II d.C. Encontra-se no Museu Municipal de Arqueologia de Silves.
PATRIMÓNIO NATURAL
SÍTIO CLASSIFICADO DA ROCHA DA PENA
O Sítio Classificado da Rocha da Pena ocupa as freguesias Benafim e Salir, numa área de 637 hectares. Constitui um biótopo de grande interesse, nomeadamente pelos acidentes geológicos característicos destas formações calcárias.
O monumento natural oferece um contraste único de texturas e tonalidades. As escarpas de rocha calcária são rodeadas de vegetação diversa em vários tons verdes. As características climáticas mediterrânicas conferem a este Sítio uma singular riqueza geológica e biodiversidade.
Foi numa das vertentes da Rocha da Pena que foram descobertos fósseis de uma espécie única para a ciência, o Metoposaurus algarvensis. Também conhecida popularmente como “Salamandra Gigante”. Trata-se de um anfíbio pré-histórico único no mundo, que existiu há mais de 200 milhões de anos atrás.
FLORA
Porque aqui se podem encontrar dois solos distintos: xistosos e calcários, a flora existente também se distingue. A sul, nos solos de origem calcária, podemos observar espécies como a alfarrobeira, a rosa albardeira, o alecrim, o tomilho e a marioila. A norte, nas elevações de origem xistosa identificam-se a urze-vermelha, a esteva, a torga e o rosmaninho.
Os vários microclimas contribuem para que cerca de trinta endemismos aqui proliferem. Um deles é o algarvio (Bellevalia hackellii). Três são europeus (Phlomis lichnitis) e seis lusitânicos (Narcissus gaditanus).
Quando fruir deste lugar, lembre-se que está numa área protegida. Pelo caminho, não colha flores ou plantas. Detenha-se no encanto da rosa-albardeira (um tipo de peónia), nos aromas e cores do alecrim e da esteva, na imponência dos sobreiros.
FAUNA
A localização da Rocha da Pena é um importante refúgio para muitas espécies de pequenos mamíferos, como o texugo, o saca-rabos, a raposa, o ouriço, a lebre e o coelho.
Existem algumas colónias de morcegos, como o morcego-de-peluche e o morcego-rato-pequeno, muito sensíveis à presença humana.
Difíceis de detetar, anfíbios como salamandras, sapos e tritões, ainda presentes em pequenas barragens, poços e tanques.
AVES
PATRIMÓNIO EDIFICADO
IGREJA PAROQUIAL DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA
A data de fundação não é exata, mas já existia em 1724. Em 1747 o Dicionário Geográfico refere uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Glória.
A ermida terá sido utilizada ao longo do século XVIII para sepultura das elites locais, designadamente para membros da família Cavaco, enquanto a maioria da população de Benafim continua a ser sepultada em Alte, freguesia que Benafim integrou no passado.
Orientada para poente, apresenta planta retangular, sendo constituída por capela-mor e uma única nave, são ambas cobertas por abóbada de berço.
OUTROS PONTOS DE INTERESSE
ALDEIA DA PENINA
Esta pequena aldeia mantém-se viva e unida, apesar do abandono progressivo dos campos e do interior em direção ao litoral. As casas apresentam uma arquitetura tradicional, caiadas de branco e as ruelas estreitas convidam a um passeio a pé. Se perguntar num café, dir-lhe-ão onde fica a casa particular com inúmeros objetos e memórias ligados à vida do campo, a fazer lembrar um museu. A aldeia é uma das portas de entrada para o Geoparque algarvensis.
O PÁTIO DE DONA ANTÓNIA, monumento de homenagem a Antónia do Carmo Provisório da Silva Campos, ilustre benemérita de Benafim. Tem autoria do artista plástico Victor Borges, filho da terra.
NORA E CALÇADA ROMANAS (humbria).
Os tempos em que a população recorria às bicas para o abastecimento de água evidencia-se nos lavadouros das Bicas Velhas e de São João.
Esse quotidiano também se refaz no nosso imaginário ao percorrer os lugares com moinhos, fontes, fornos de cal e casas antigas ligadas à agricultura.
ATIVIDADES DE INTERESSE
Benafim é atravessada pela Via Algarviana, um itinerário pedestre com uma extensão de 240 km que percorre o interior do Algarve, atravessando um total de nove concelhos.
Os percursos pedestres são muito aconselháveis. Com sinalização específica, o Sítio Classificado da Rocha da Pena propõe uma caminhada com cerca de três horas, numa extensão de 4,7 quilómetros.
Este é também local de eleição para a prática de desportos como o BTT, a escalada ou o trail running.
FESTAS E ROMARIAS
A festa em honra de Nossa Senhora da Glória, a padroeira de Benafim, realiza-se no terceiro sábado de outubro.
A Festa dos Milhos ocorre no mês de Agosto, evocando os seus usos gastronómicos e o convívio numa época em que habitualmente os emigrantes regressam de férias à terra de origem. É lugar por excelência para conhecer a arte dos artesãos locais.
DINÂMICAS HUMANAS
Comércio e serviços são predominantes na economia de Benafim. Todavia, ao percorrer este território, testemunha-se ainda a prática da agricultura, da pastorícia e da apanha de frutos secos. O pomar de sequeiro traduz-se no tripé alfarroba, amendoeira e figueira. O pastoreio, nos rebanhos de ovelhas e cabras guiadas pelo pastor.
A Quinta do Freixo, que ocupa uma área de 800 hectares, constitui atualmente o mais importante pólo de desenvolvimento turístico da freguesia, dedicada a um leque de atividades que vão da agricultura e pecuária à transformação e turismo. Toda a área se encontra certificada em modo de produção biológico.
Nos ofícios, destaque para a confeção de rendas, bordados e trapologia (os trapejos, obras feitas a partir de trapos).
Benafim tem um centro comunitário, a Associação Social para o Progresso e Bem Estar da Freguesia de Benafim que se mobiliza em nome do desenvolvimento local, a par com outros organismos. Recuperou recentemente a Festa dos Milhos.
Num plano mais alargado, e por conta da descoberta do Metoposaurus algarvensis e do elevado valor geológico deste território, foram congregados esforços para a criação de um consórcio municipal Loulé-Silves-Albufeira, a fim de elevar este geossítio a Geoparque Mundial da UNESCO.
GASTRONOMIA