GPS
37.26347, -7.96239
O Ameixial é uma freguesia do município de Loulé com 123,85 km² de área e 381 habitantes (Censos de 2021). Tem uma densidade populacional, de 3,1 habitantes/km². A freguesia é atravessada pela Ribeira do Vascão e confronta a sudoeste com Salir, Querença e Cachopo; Martinlongo a este e Santa Cruz de Almodôvar a norte.
CARACTERÍSTICAS NATURAIS
A povoação do Ameixial localiza-se a norte de Loulé, na fronteira com o concelho de Almodôvar, Alentejo. É servida pela Estrada Nacional 2, uma das mais extensas da Europa a começar e a terminar no mesmo país, ligando Portugal de norte a sul, de Faro a Chaves. Predominantemente, é uma zona de xistos argilosos e grauvaques, rochas que testemunham a existência em tempos de um oceano cujo fundo foi comprimido, originando uma montanha.
Esta história – que também fundamenta o (aspirante a) Geoparque algarvensis (em Loulé, Silves e Albufeira) – começou há mais de 350 milhões de anos, no fundo do oceano Rheic que separava os dois grandes continentes, Euramérica e Gonduana, e onde se depositaram, durante o período Carbonífero (há 360 a 300 milhões de anos), os sedimentos que deram origem às rochas que identificam o Ameixial. A deformação, as dobras e as falhas que afetam as rochas metamórficas testemunham as forças tectónicas compressivas, associadas à união dos dois supercontinentes e à extinção do antigo oceano.
ORIGENS
OCUPAÇÃO HUMANA
As evidências arqueológicas apontam para a ocupação deste território pelo menos desde o período Neolítico, ou seja, de 10.000 a.C. até cerca de 3.000 a.C., ainda na Pré-História. No Ameixial, são de particular importância a Anta do Beringel e a Anta da Pedra do Alagar, monumentos megalíticos pré-históricos com cerca de 7.000 anos, bem como os sítios arqueológicos onde foram encontrados alguns exemplares de estelas com Escrita do Sudoeste, datadas da Idade do Ferro, com cerca de 2.500 anos. A descoberta de um jarro de vidro de bocal trilobado, que se encontra atualmente no Museu Nacional de Arqueologia, remonta aos séculos II ou III d.C, aponta para uma produção luso-romana que encontra paralelo noutras peças da cidade de Ammaia (no Alentejo, em São Salvador da Aramenha, perto de Marvão). Entre outras peças, também um aplique com corpo decorado e um jarro atestam ocupação nos séculos VI-VII, no fim do império romano e início do período islâmico, com influências bizantinas e visigodas.
Constituindo ponto de passagem e de pernoita, o Ameixial tinha três estalagens, na primeira metade do XX, mais do que Faro. Uma delas tinha capacidade para alojar 80 almocreves, os condutores das carruagens, bem como para receber e tratar os animais que puxavam as carroças ou diligências. A vida era ligada à agricultura e à pecuária: matava-se o porco, criava-se as galinhas e semeava-se as hortas. Comia-se o que a natureza produzia, em função das épocas. Havia as favas, as ervilhas, o feijão verde e o tomate.
No início do século XX, escrevia Ataíde Oliveira: «É cultivada por seus habitantes com lavouras de trigo, cevada e centeio, de que é abundante, principalmente em anos invernosos. Tem varias hortas, que se regam com fontes, que nascem da serra, e nellas muitas fructas de varias sortes. Alem destas produz esta serra muitas bolotas, com as quaes criam seus moradores muitas porcadas, que as pessoas de outras terras ali vão comprar». A descrição pode ler-se na Monografia do Concelho de Loulé, numa alusão aos montados de azinheira e à criação de gado suíno, para consumo próprio e para venda. Prossegue Ataíde Oliveira: «Cria também alem dos porcos muito gado de lã e pelo, muitas colmêas e muita caça grossa e miúda, rasteira e do ar; javalis, veados, lebres, coelhos, perdizes e outra caça. O clima é demasiadamente frio no inverno, e da mesma sorte quente no verão.»
Nessa época, o Ameixial tinha oito moinhos de vento e três de água ativos e possuía já uma escola primária mista. O cemitério atual tinha sido fundado pouco antes, em 1871. A Estrada Nacional 2 não existia, garante Ataíde Oliveira: «Não tem estrada nenhuma a Mac-Adam» (macadame, terra batida e pedra britada compactadas).
A ESCRITA DO SUDOESTE
Há mais de 2.500 anos atrás, durante a Idade do Ferro, no Sul de Portugal e na Andaluzia, as comunidades adaptaram o alfabeto fenício, transformando-o na Escrita do Sudoeste. Concentrada na serra entre o Algarve e o Baixo Alentejo, aparece em blocos de pedra que se fixavam no solo (estelas). Existem poucos vestígios desta escrita, cerca de 100, a maioria em estelas. A Escrita do Sudoeste conta com 27 signos, entre vogais, consoantes e caracteres silábicos, parte deles com aparentes equivalências a algumas letras do nosso alfabeto. Era redigida em arco, de baixo para cima e da direita para a esquerda. Aquela que foi a primeira manifestação de escrita da Península Ibérica continua indecifrável e misteriosa. Desde a descoberta da primeira estela, em 1897, são conhecidas 15 estelas com Escrita do Sudoeste no concelho de Loulé, divididas em dois conjuntos: o de Benafim/Salir e o de Ameixial.
As dez estelas do Ameixial localizam-se precisamente ao longo da Ribeira do Vascão e dos seus afluentes. As primeiras notícias de “pedras com letras” são do algarvio Ataíde Oliveira. Em 1928, a estela de Monte dos Vermelhos foi dada a conhecer pelo etnólogo José Leite de Vasconcellos, através de informação do Prior de Salir. Cinco anos mais tarde, o mesmo investigador escreve sobre uma nova estela, a do Monte da Portela, encontrada por José Rosa Madeira (1890-1941), natural do Ameixial e colecionador de peças arqueológicas, oferecidas aos museus de Faro e de Lisboa. Em 2008, o Projecto ESTELA identificou novos sítios arqueológicos, incluindo uma necrópole onde foi encontrada a estela de Corte Pinheiro. O conjunto do Ameixial é um dos que tem mais estelas e é da maior importância para o conhecimento desta escrita antiga.
PATRIMÓNIO NATURAL
RIBEIRA DO VASCÃO
A Ribeira do Vascão, afluente do Rio Guadiana, divide as regiões do Alentejo e Algarve e apresenta um regime torrencial, com caudais elevados no inverno e muito reduzidos no verão. A bacia hidrográfica do Vascão, com 455 km2, proporciona habitats para uma grande variedade de espécies, muitas delas endemismos locais protegidos por várias diretivas comunitárias.
É por muitos considerado o rio português mais longo sem barragens ou outras barreiras artificiais. O rio e a zona envolvente estão classificados como Sítio Ramsar, ou seja, estão protegidos pela Convenção sobre Zonas Húmidas, um tratado intergovernamental adotado A 2 de fevereiro de 1971, na Cidade iraniana de Ramsar.
Segundo Adalberto Alves, no seu Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa, o topónimo Vascão tem origem na palavra árabe baṣqa, “zona pedregosa”. Segundo outros estudiosos, a palavra árabe “basqa” significaria “zona de pedras negras”.
ANTA DO BERINGEL E ANTA DA PEDRA DO ALAGAR
PATRIMÓNIO EDIFICADO
IGREJA MATRIZ DE SANTO ANTÓNIO
As primeiras referências escritas à Igreja Matriz do Ameixial surgem em 1747, pela mão do Padre Luís Cardoso, no seu Dicionário Geográfico. Nesse livro, o padre descreve a igreja como um edifício de uma só nave, dedicado a Santo António. No altar-mor estava a imagem do padroeiro e nos altares secundários, dedicados a Nossa Senhora do Rosário, ao Senhor Jesus Crucificado, a São Pedro Apóstolo e a São Luís Bispo, estavam as imagens dos oragos respetivos. Em 1758, o padre faz nova descrição, dando conta dos «consideráveis» danos causados pelo terramoto de 1755.
A igreja, retangular tem uma só nave e capela-mor. A torre tem dois sinos, um dos quais está datado da segunda metade do século XIX, segundo Francisco Lameira e Marco Sousa Santos, investigadores do património religioso do concelho de Loulé.
No interior, há uma pia batismal do século XVI que merece referência, bem como o arco da antiga capela lateral do Senhor Jesus, decorado com caneluras e denticulados, provavelmente do século XVII. No exterior, sobre a porta de uma das casas anexas à igreja, encontra-se uma placa de cantaria com a data de 1624, o que aponta para a existência da Igreja já nessa altura.
ERMIDA DE SÃO SEBASTIÃO
As origens da ermida de São Sebastião são algo misteriosas, por haver pouca documentação que lhe faça referência. Sabe-se apenas que já existia em 1758, altura em que o Padre Luís Cardoso a esta se refere, como estando situada no terreiro da Igreja Matriz. Segundo o pároco, existiam apenas três imagens no interior do templo: a do orago, São Sebastião, uma de Nossa Senhora do Amparo e outra de São Brás. Dada a pouca distância da Igreja Matriz, supõe-se que tenha sido construída por altura de um surto epidémico ou peste, já que São Sebastião é invocado como protetor de pestes e epidemias.
O edifício atual é do século XX, sem marcas de antiguidade, daí que se admita que a anterior estrutura da ermida tenha sido completamente destruída. A ermida de São Sebastião constitui uma casa única, com duas águas e cobertura de betão. Tem um campanário munido de sino. No interior há apenas um nicho, de alvenaria, onde está a figura do padroeiro, encostado a um tronco e trespassado por setas de metal. Supõe-se que seja a mesma imagem que o Padre referiu, em meados do século XVIII.
PALHEIROS DE XISTO COM TELHADOS DE COLMO
OUTROS PONTOS DE INTERESSE
PRAIA FLUVIAL DA SEICEIRA
DAQUI SENTE O QUE VÊS
FESTAS E ROMARIAS
Destaque para a Festa da Seiceira (1.º Maio). Assinalam-se também outras festas tradicionais, como os Santos Populares, em particular, o Santo António.
Ainda: Walking Festival Ameixial (Abril) que atrai pessoas ligadas à natureza e às caminhadas de todo o país; Festa do Santo António, padroeiro, no dia 15 de agosto; Festa de São Luís (data variável); Ameixial Summer Fest, meio de Agosto; “Filmes com Estrelas”, no Verão; Festa de Verão (Agosto); Feira da “Barreira” (Dezembro); Festa anual – Maio / Agosto / Dezembro; Mercado Mensal do Ameixial (primeira 5.ª feira de cada mês).
DINÂMICAS HUMANAS
O património ganha particular relevo em aldeias mais afetadas pela erosão do tempo e pelo envelhecimento das populações, como é o caso do Ameixial. Iniciativas como o Walking Festival Ameixial têm mobilizado os mais jovens para a preservação das tradições e divulgação do conhecimento. Este é um festival que aponta para além das caminhadas. É inclusivo, multicultural e acessível, aglutinando áreas como o Turismo de Natureza, o Ecoturismo, o Turismo Cultural e a valorização do interior.
Este tipo de atividade ajuda a contrariar o abandono progressivo da agricultura e da pecuária, face à oferta crescente de serviços no litoral do Algarve.
GASTRONOMIA