Num cenário de crescente urbanização, as regiões do interior de Portugal e da Europa enfrentam um desafio de sobrevivência.

O despovoamento, a falta de investimento e a centralização dos serviços em grandes cidades têm levado à perda gradual de dinamismo económico e cultural nestes territórios. No entanto, é precisamente nestas zonas que se encontra uma das maiores reservas de sustentabilidade, identidade e recursos estratégicos do continente.

O interior português, do Alto Alentejo às serras da Beira e Trás-os-Montes, guarda não apenas tradições e saberes ancestrais, mas também vastos recursos naturais e oportunidades para uma economia verde e digital. Em tempos de crise climática e de busca por alternativas à concentração urbana, estas regiões revelam-se fundamentais para um modelo de desenvolvimento mais equilibrado.

As zonas rurais são responsáveis pela preservação de ecossistemas essenciais à manutenção do equilíbrio ambiental da Europa. São nelas que se protege a água, se gere a floresta e se produz grande parte dos alimentos que abastecem os centros urbanos. A valorização do interior, portanto, não é apenas uma questão de coesão territorial, mas uma necessidade ecológica e económica.

O avanço da bioeconomia, das energias renováveis e do turismo sustentável oferece hoje oportunidades reais para populações e empreendedores locais. Com políticas adequadas e investimento tecnológico, o interior pode tornar-se uma força motriz na transição energética e digital europeia.

Mais do que números de PIB, o interior representa uma dimensão humana e cultural inestimável. É nas aldeias, feiras e ofícios tradicionais que se mantêm vivas as raízes identitárias de Portugal. A sua preservação e revitalização são também uma forma de proteger o património imaterial europeu, ligando gerações e territórios.

Incentivar o repovoamento, melhorar as infraestruturas digitais e favorecer a descentralização administrativa são passos fundamentais para devolver ao interior o protagonismo que merece.

A União Europeia já reconheceu a importância das regiões rurais no seu plano de desenvolvimento e coesão até 2050. O futuro de Portugal — e, em larga escala, da Europa — depende da capacidade de equilibrar o crescimento das metrópoles com a revitalização das zonas interiores.

Investir no interior não é um gesto de caridade geográfica: é um investimento estratégico no futuro sustentável, humano e territorial do continente.