Cerca de 48 milhões de europeus continuam sem conseguir manter as suas casas devidamente aquecidas. Nas áreas rurais, as famílias gastam em média 7% do seu orçamento em energia, um sinal claro do peso crescente da pobreza energética.

As habitações rurais tendem a ser mais antigas, maiores e menos eficientes do ponto de vista energético, mas apresentam também um elevado potencial para melhorias e para a instalação de sistemas de energia renovável.

Ser energeticamente pobre significa não ter acesso suficiente à energia necessária para serviços essenciais, como aquecimento e arrefecimento. Esta limitação tem efeitos diretos na saúde e bem-estar das populações, principalmente durante os verões cada vez mais quentes e os invernos rigorosos.

De acordo com um novo relatório do Centro Comum de Investigação (JRC) da Comissão Europeia — Exploring rural energy poverty and needs — as zonas rurais estão particularmente expostas à pobreza energética devido a rendimentos mais baixos e habitações maiores e menos isoladas do que nos centros urbanos. Ainda assim, estas áreas estão a avançar mais rapidamente nas obras de eficiência energética, aproveitando o facto de a maioria das casas ser propriedade dos próprios residentes e disporem de mais espaço para instalar painéis solares.

Portugal entre os países mais afetados
Os resultados do estudo mostram que os níveis de pobreza energética são mais elevados em países como Bulgária, Roménia e Grécia. Portugal, Croácia, Chipre e Lituânia enfrentam também desafios semelhantes, embora de forma menos acentuada.

O índice criado pelos investigadores avalia quatro fatores principais: a incapacidade de manter a casa aquecida, o atraso no pagamento das contas, a degradação física das habitações e o risco de pobreza. Em quase todos os países, as zonas rurais surgem como as mais afetadas, enquanto as cidades apresentam índices mais baixos.

Renovação e energia solar: uma oportunidade
Entre 2018 e 2023, 29% das famílias que vivem em zonas rurais europeias realizaram obras para melhorar a eficiência energética das suas casas, mais do que os 25% das zonas suburbanas e 23% das urbanas. As intervenções mais comuns incluem o reforço do isolamento térmico, substituição de janelas simples por vidro duplo ou triplo e instalação de sistemas de aquecimento mais eficientes.

A energia solar surge como a aposta mais promissora. Com 78% das casas rurais em regime de propriedade, contra 55% nas cidades, e com maior disponibilidade de telhados, estima-se que os painéis solares fotovoltaicos nestas zonas poderiam gerar cerca de 2.200 kWh por habitante por ano, o equivalente a mais de um terço do consumo médio doméstico.

Combater a pobreza energética para uma transição justa
Segundo dados do Eurostat, em 2023 cerca de 10,6% da população da União Europeia, 48 milhões de pessoas, não conseguiu manter a casa adequadamente aquecida. Com as temperaturas médias a subir, a pobreza energética no verão começa também a tornar-se uma preocupação crescente.

O combate a este fenómeno está no centro da transição energética justa da União Europeia. Melhorar a eficiência dos edifícios e aumentar a produção local de energia renovável são passos decisivos que podem reduzir simultaneamente as emissões de gases com efeito de estufa e os custos energéticos das famílias.